20 de dez. de 2011

COMPORTAMENTO ALIMENTAR INADEQUADO



COMPORTAMENTO ALIMENTAR INADEQUADO



Atualmente estamos vivenciando a modernidade e a praticidade em nosso dia a dia, isso não só inclui a tecnologia, mas também toda a alimentação. Nos últimos anos houve um grande crescimento de Bares, Restaurantes e Fast Foods. A gastronomia esta cada vez mais criativa, desenvolvendo nas pessoas paladares aguçados, incentivando o gosto pelo comer, e tornando assim o ato de comer algo bom e prazeroso.
O comportamento de “beliscar” ou “nibbling” o dia inteiro pequenas quantidades de alimentos, é um comportamento não saudável que provoca oscilações no peso corporal. Muitas pessoas apresentam “Craving”, significa desejo intenso por tipos de alimentos específicos, como chocolates, doces, bebidas alcoólicas, carboidratos, etc; ou “Snacks, comer coisas “lanchinhos” (bolachas, biscoitos industrializados, etc) entre as refeições. No entanto, nenhum se encaixa nos critérios de transtorno alimentar específico (MATOS apud FRANQUES et al, 2006).
O  Comportamento Alimentar Inadequado baseia-se em hábitos alimentares errados, dietas hipocalóricas, privação dos alimentos, padrão alimentar irregular, vontades e desejos impulsivos, dificuldade em sentir saciedade, falta de atividade física, enfim, todos esse comportamentos resultam em ganho de peso e posteriormente em obesidade. Um bom exemplo que apresento é quando o indivíduo, não tem o costume de consumir alimentos saudáveis e substitui refeições balanceadas por lanches pesados, salgados, frituras, etc. Devido a correria do dia a dia, acaba pulando horários nas principais refeições, burlando a fome, e quando conseguem tempo para comer acabam comendo quantidades exageradas e muito rapidamente, condicionando esses comportamentos aos hábitos errados. Agindo desta forma diariamente, estes comportamentos alimentares inadequados, desenvolverão sentimentos cada vez mais ansiosos e impulsivos, apresentando falta de controle sobre as vontades e os desejos, a incapacidade de lidar com frustrações, baixa autoestima, sentimentos de culpa, falta de habilidades sociais, isolamento e depressão. O comportamento se repete à medida que é reforçado pelas conseqüência que produz, como um aprendizado, mediado por estímulos reforçadores enquanto come e por estímulos negativos ou aversivos, depois de comer. Nem sempre discriminado ou percebido pelo obeso. Nesta fase o indivíduo parece que vive para comer. Esta pessoa estará contribuindo para desenvolver o Transtorno da Compulsão Alimentar.
Quando falamos em compulsão, a maioria das pessoas acredita apresentar este comportamento, o que na prática não se evidencia; esta palavra parece não ser precisa quanto ao seu significado. Outra questão é o uso da palavra compulsão indicando ser este um comportamento compulsivo. Falar na compulsão alimentar como algo compulsivo não se mostra totalmente adequado, pois este comportamento mais se assemelha a um problema de impulso, no qual a pessoa não importa, do que seria um comportamento compulsivo. Um terceiro problema é a ocorrência de duas denominações: compulsão alimentar e o “Transtorno da compulsão alimentar periódica”. Para o leigo, fazer a diferenciação entre compulsão alimentar e o “Transtorno da compulsão alimentar periódica” é bastante difícil e gera confusão. Dizemos que um indivíduo apresenta compulsão alimentar quando ele tem pelo menos o excesso alimentar com perda de controle, mas não preenche todos os critérios diagnósticos para o transtorno. A compulsão alimentar pode ser um comportamento eventual, que não apresenta incômodo ao indivíduo; pode também ser ela um quadro parcial (não preenche todos os critérios para o transtorno), que traz desconforto e geralmente leva o indivíduo a procurar tratamento. Por fim temos o transtorno, que é assim denominado quando o paciente, além de preencher todos os critérios diagnósticos, apresenta sofrimento e impedimentos na vida decorrentes desta patologia. (BORGES; JORGE, 2000).
Referências:

MATOS, M. I. apud FRANQUES, A.M. et al, 2006. Contribuições da Psicolgia na Cirurgia da Obesidade. Editora Vetor.



OBESIDADE MÓRBIDA



Obesidade, um termo vindo do latim obesus, ob=muito, edere=comer, é definida como aumento da quantidade de gordura corporal ou do tecido adiposo, tornando-se um dos principais problemas de saúde pública nos dias de hoje (MATOS, 2002).
A forma mais simples para diagnostica a obesidade é a formula recomendada pela Organização Mundial de Saúde. Essa formula é calculada dividindo-se o peso do paciente em kilogramas (Kg) pela sua altura em metros elevada ao quadrado (m2). O valor assim obtido estabelece o diagnóstico da obesidade e caracteriza os riscos associados conforme apresentado a seguir:

IMC (Índice de Massa Corporal)  =
Peso ( Kg )
Altura 2 ( m2 )
IMC ( kg/m2)
Grau de Risco
Tipo de obesidade
18 a 24,9 
Peso
Ausente
25 a 29,9 
Moderado
Sobrepeso ( Pré-Obesidade )
30 a 34,9 
Alto 
Obesidade Grau I
35 a 39,9
Muito Alto
Obesidade Grau II
40 ou mais
Extremo 
Obesidade Grau III ("Mórbida")








Durante muito tempo indivíduos obesos foram considerados como comedores compulsivos. Na sociedade em que vivemos a maioria das pessoas acredita, que todo individuo obeso apresenta um transtorno de compulsão alimentar, ou seja, “toda pessoa obesa é gorda porque come muito”,  ignorando desta forma as possíveis diferenças comportamentais, sociais dentre outros fatores que podem, ter sido como desencadeadores da obesidade.  Segundo o autor Segal, 2002, a obesidade é uma doença multifatorial, onde aspectos hereditários, metabólicos, ambientais, comportamentais e psicológicos interagem entre si. Ela pode sim, acarretar inúmeras complicações psicológicas e psiquiátricas. Porém por outro lado a obesidade não é resultado de conflitos psicológicos inconscientes.
Apesar da obesidade grau III (mórbida) apresentando no quadro acima, apesar de ser freqüente em pacientes que procuram a cirurgia bariátrica e acompanhada de várias comorbidades médicas, não deve ser vista como necessariamente associada a problemas de origem psicológicas (Oliveira & Yoshida, 2009). Segundo autora Oliveira 2009, acredita que é preciso enfatizar que essas interpretações requerem cautela quanto à generalização e rotulação destes pacientes.
No entanto, a obesidade, não é considerada uma doença psiquiátrica nem uma condição para um diagnóstico de Transtorno Alimentar, trata-se de uma condição física que advém de múltiplas causas e pode trazer variadas conseqüências emocionais e comportamentais. Assim, a obesidade mórbida poderia ser vista como causadora dos problemas psicológicos e não como uma conseqüência. É necessário avaliar dentro dos critérios do DSM IV se este paciente obeso apresente Transtorno de Compulsão Alimentar ou apenas hábitos e comportamentos alimentares inadequados que levaram a obesidade mórbida. 

Referências:

Matos, M. I., Aranha, L. S., Faria, A. N., Ferreira, S. R. G., Bacaltchuck, J. & Zanella, M. T. (2002). Binge eating disorder, anxiety, depression and body image in grade III obesity patients. Revista Brasileira de Psiquiatria, 24(4), 165-169. 

Oliveira, J. H. A. & Yoshida, E. M. P. (2009). Avaliação psicológica de obesos grau III antes e depois de cirurgia bariátrica. Psicologia Reflexão e Crítica, 22(1), 12-19. 

Segal, A. & Fandino, J. (2002). Indicações e contraindicações para realização das operações bariátricas. Revista Brasileira de Psiquiatria, 24(3), 68-72.

Psicóloga Ivanimeire Grossi

27 de ago. de 2011

DEPOIMENTO DA PACIENTE CAROL

Operei há 2 meses (junho), e a evolução do primeiro mês foi fantástica.. segui tudo direitinho, os conselhos da psico e da nutri, tudo certinho... porém, enquanto a minha recuperaçao da cirurgia ia super bem, tive alguns problemas pessoais que me afetaram muito psicologicamente... passei por um stress muito intenso e quando estava completando a sexta semana de operada foi quando tudo começou. Por conta de todo o stress, problemas pessoais, financeiros e afins, enquanto antes da cirurgia eu correria pro primeiro McDonald's ou Burguer King e afins da vida, meu novo e recém nascido estomaguinho simplesmente começou a rejeitar toda e qualquer comida e papinha... sim ate as papinhas da quarta semana começaram a ser rejeitadas.. e voltei, ou pelo menos tentei, voltar pra dieta liquida da primeira semana, sim.. só caldinhos ralos, sucos, gaytorade e muita água de coco que até então era a única coisa que parava por um pouco mais de tempo no estômago... até um momento em que tudo junto, o stress, os problemas, e agora a parte física que me desesperava por achar que poderia estar com algum problema mais grave, realmente ficou mais preocupante pois até agua comum começou a ser rejeitada, e nisso entrei num quadro de desidrataçao e fui hospitalizada...  Varios exames, no total 3 endoscopias, raio X com contraste... o médico praticamente me virou do avesso e nada... nada de fisicamente errado com o recém nascido estomaguinho... Voltei a fazer o acompanhamento com a psicologa, psiquiatra, e até mesmo terapias holisticas, para tentar equilibrar a parte emocional. Assim que comecei a digerir o que se passava na minha cabeça, e que enfim comecei a conseguir resolver os problemas que me preocupavam, o estomaguinho voltou a aceitar os sucos, agua de coco, papinhas, cremes e agora com 11 semanas de cirurgia finalmente cheguei onde deveria estar na sexta semana! Finalmente comendo sólidos, comida, comida mesmo... Mas uma coisa eu digo.. mesmo com toda essa complicaçao em momento algum me arrependi da cirurgia. Ainda estou fazendo acompanhamento psicológico e sei que vai ser por muito tempo. Mas de que adianta ficar com o corpo fisicamente bem se a cabeça nao acompanha?

Mais informações no Blog da Carol : www.conversaseafins.blogspot.com

28 de jul. de 2011

Cirurgia Bariátrica - Aspéctos Psicológicos e Psiquiatricos

Revista de Psiquiatria Clínica

Print version ISSN 0101-6083

Rev. psiquiatr. clín. vol.31 no.4 São Paulo  2004

doi: 10.1590/S0101-60832004000400014 

ARTIGO ORIGINAL

Cirurgia bariátrica aspectos psicológicos e psiquiátricos

Bariatric surgery — psychological and psychiatric aspects


Verenice Martins de OliveiraI; Rosa Cardelino LinardiI;Alexandre Pinto de AzevedoII
IPsicóloga clínica do Grupo de Estudo, Assistência e Pesquisa em Comer Compulsivo e Obesidade — GRECCO/Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Ipq — AMBULIM — Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo — HC-FMUSP
IIMédico psiquiatra. Coordenador do GRECCO-AMBULIM/IPq/HC/FMUSP
Endereço para correspondência



RESUMO
A cirurgia bariátrica é o método mais eficaz no tratamento da obesidade mórbida e controle do peso em longo prazo. As cirurgias antiobesidade podem ser procedimentos que limitam a capacidade gástrica, ou que interferem na digestão ou, ainda, uma combinação de ambas as técnicas. A maneira mais objetiva para classificar a obesidade é o Índice de Massa Corpórea (IMC). Pessoas com IMC acima de 40 são portadoras de obesidade mórbida. As principais indicações para a cirurgia bariátrica são: obesos com IMC maior que 40 kg/m² ou IMC acima de 35 kg/m², associado com doenças clínicas descompensadas pela própria obesidade. O papel do psicólogo é o de avaliar se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia e auxiliá-lo quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré e pós-cirúrgico. Quanto a possíveis contra-indicações psiquiátricas para a cirurgia antiobesidade, não há consenso na literatura.
Palavras-chave: Cirurgia bariátrica, obesidade mórbida, aspectos psiquiátricos da obesidade.

ABSTRACT
Bariatric surgery is the only proven effective therapy for long-term control of morbid obesity. This surgery can be broadly divided into procedures that limit the stomach's capacity, that interfere with digestion or a combination of both the techniques. The best way to classify the obesity is the Body Mass Index (BMI). Obesity becomes a serious disease when it is morbid, that is, when the BMI exceeds 40 kg/m². The main indications for the bariatric surgery are individuals with a BMI > 40 or those with a BMI> 35 who also present any comorbidity. Psychological aspects should be evaluated, like if the individual is emotionally prepared for the surgery. Beyond, psychiatric contraindications for bariatric surgery are not well-established.
Keywords: Bariatric surgery, morbid obesity, psychiatric aspects of obesity.



Introdução
A obesidade é vista atualmente como um dos problemas de saúde pública mais preocupantes, devido ao seu crescente aumento e as graves conseqüências que pode acarretar. Trata-se de um fenômeno multifatorial que envolve componentes genéticos, comportamentais, psicológicos, sociais, metabólicos e endócrinos (Björntorp, 2003).
A maneira mais objetiva para classificar a obesidade é o Índice de Massa Corpórea (IMC). A faixa de peso de IMC considerada normal varia de 19 a 24,9 Kg/m2. Pessoas com IMC de 25 a 30 são consideradas acima do peso (sobrepeso), enquanto aquelas entre 30 e 40 já são classificadas como obesas. Finalmente, pessoas com IMC acima de 40 são portadoras de obesidade mórbida. Os pacientes com obesidade mórbida devem ser encarados como portadores de uma doença que ameaça a vida, reduz a qualidade de vida e a auto-estima e que requerem abordagens eficientes para promover uma redução do peso. Esses pacientes são candidatos à cirurgia bariátrica (Björntorp, 2003).

A cirurugia bariátrica
As cirurgias antiobesidade podem ser didaticamente divididas em procedimentos que: 1) limitam a capacidade gástrica (as chamadas cirurgias restritivas); 2) interferem na digestão (os procedimentos mal-absortivos); e 3) uma combinação de ambos as técnicas. São consideradas uma opção efetiva para o controle da obesidade mórbida em longo prazo (Pories, 2003).
Indicações para a cirurgia bariátrica devem preencher alguns critérios, como IMC maior que 40 kg/m² ou IMC acima de 35 kg/m², associado com doenças com, no mínimo, cinco anos de evolução e que melhorem com a perda de peso, como diabetes melito e hipertensão arterial, doenças osteoarticulares (principalmente de membros inferiores), apnéia do sono, histórico de falha de tratamentos conservadores prévios e ausência de doenças endócrinas como causa da obesidade (Pories,2003).
Quanto à possibilidade de contra-indicações psiquiátricas para a cirurgia bariátrica, não há consenso na literatura. Embora a presença de transtornos depressivos, afetivo bipolar ou psicótico costumem ser considerados como contra-indicações para a realização da cirurgia, não há dados ou fatores preditivos de bom ou mal prognóstico adequadamente estudados e/ou comprovados (Segal, 2002). De forma geral, utiliza-se o bom senso de liberar o paciente com transtorno psiquiátrico já estabilizado ou pelo menos tendo iniciado o tratamento específico, considerando o risco da própria obesidade mórbida como principal indicador do ato cirúrgico. Cuidado especial deve ser dado a pacientes portadores de dependência de etílicos pela sua associação com má evolução pós-operatória e risco de morte (Hsu, 1998).
No pré-operatório, o paciente precisa ser informado das mudanças significativas pelas quais ele atravessará. Um acompanhamento psicológico fornece condições para que o paciente perceba a amplitude do processo que passará e o ajuda a tomar decisões mais conscientes e de acordo com seu caso particular. A cirurgia bariátrica deve ser contra-indicada em qualquer caso em que o paciente não esteja plenamente de acordo com a cirurgia ou não seja capaz de apreciar as mudanças que ocorrerão após a operação, quer por transtornos psiquiátricos de eixo I ou por incapacidade cognitiva (Segal, 2002)

Aspectos psicológicos e psiquiátricos
Segundo o Consenso Latino-americano de Obesidade (Coutinho,1999), a pessoa portadora de obesidade apresenta um sofrimento psicológico resultante do preconceito social com a obesidade e também com as características do seu comportamento alimentar.
Pessoas obesas apresentam maiores níveis de sintomas depressivos, ansiosos, alimentares e de transtornos de personalidade. Porém, a presença de psicopatologia não é necessária para o aparecimento da obesidade. A presença de psicopatologia é restrita a grupos específicos, tal como acontece em outras doenças crônicas. Assim, a obesidade poderia ser vista como causadora da psicopatologia e não como conseqüência desta última (Khaodhiar, 2001).
A cirurgia antiobesidade é um procedimento complexo e, assim como qualquer cirurgia de grande porte, apresenta risco de complicações. Portanto, o paciente precisa conhecer muito bem qual é o procedimento cirúrgico e quais os riscos e benefícios que advirão da cirurgia. Desta forma, além das orientações técnicas, o acompanhamento psicológico é aconselhável em todas as fases do processo.
O período imediatamente após a cirurgia é relatado pelos cirurgiados como sendo um dos mais difíceis. É a fase de recuperação do ato cirúrgico, de maior desconforto e de adaptação à nova dieta. Junta-se a tudo isso a expectativa, a ansiedade e a insegurança do novo período. No pós-operatório, as mudanças rápidas que acontecem, tanto relacionadas aos hábitos alimentares, quanto às mudanças do próprio corpo, acabam exigindo do paciente uma reflexão, e emergem questões emocionais. É neste momento que o trabalho psicológico é de extrema importância, podendo auxiliar o paciente a se conhecer e a se compreender melhor, a aderir de forma mais eficiente ao tratamento, envolvendo-o e tornando-o responsável pela vivência de criação de uma nova identidade e estimulando a sua participação efetiva no processo de emagrecimento (Franques, 2003).
Tratando-se de pacientes obesos mórbidos, podemos dizer que a imensa maioria dos que chegam à cirurgia bariátrica traz alterações emocionais. Essas dificuldades de natureza psicológica podem estar presentes entre os fatores determinantes da obesidade ou entre as conseqüências. Os estudos indicam que a fase de desenvolvimento na qual tem início a obesidade faz diferença na evolução pós-operatória, isto é, aqueles que eram magros e depois tornaram-se obesos tendem a recuperar uma imagem de seu corpo como magro mais facilmente, enquanto que aqueles que eram gordos desde a infância têm dificuldade de adaptar-se a uma nova imagem (Nunes 1998).
O tratamento desta patologia requer uma equipe multidisciplinar, e o papel do psicólogo dentro da equipe é o de avaliar se o indivíduo está apto emocionalmente para a cirurgia, auxiliá-lo quanto à compreensão de todos os aspectos decorrentes do pré-cirúrgico (avaliá-lo quanto aos seus conhecimentos sobre a cirurgia, riscos e complicações, benefícios esperados, exames e seguimentos requeridos em longo prazo, conseqüências emocionais, sociais e físicas e responsabilidades esperadas), inclusive, detectar e tratar os pacientes portadores ou potencialmente sujeitos a distúrbios psicológicos graves (Franques, 2003).

Referências bibliográficas
BJÖRNTORP, P.- Definition and classification of obesity. In: Fairbuirn & Brownell (eds) Eating disorders and obesity. 2.ed, New York, p. 377-81, 2003.        [ Links ]
COUTINHO, W.- Consenso Latino-Americano de Obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab 43: 21-67, 1999.        [ Links ]
FRANQUES.- Sobre o Comportamento e cognição. In: Arruda RTC (ed) Obesidade mórbida e intervenção, ESETEC Editores Associados, pp. 335, 2003.        [ Links ]
HSU, L.K.; BENOTTI, P.N. et al.- Nonsurgical factors that influence the outcome of bariatric surgery: a review. Psychosom Med, 60 (3): 338-46, 1998.        [ Links ]
KHAODHIAR, L.; BLACKBURN, G.L.- Health benefits and risks of weight loss. In: Björntorp, P. (ed) International textbook of obesity, John Wiley & Sons, Chichester pp. 413-40, 2001.        [ Links ]
NUNES; APOLINARIO; ABUCHAIM; COUTINHO e cols.- Transtornos alimentares e obesidade, ArtMed, Porto Alegre, 1998.        [ Links ]
PORIES, W.J.; JOSEPH, E.B.- Surgery for obesity:procedures and weight loss. In: Fairbuirn & Brownell (eds) Eating disorders and obesity, 2.ed, New York, pp. 562-7, 2003.        [ Links ]
SESGAL, A.; LIBANORI, H.T.; AZEVEDO, A.- Bariatric surgery in a patient with possible psychiatric contraindications. Obesity Surgery 12(4): 598-601, 2002.        [ Links ]


Endereço para correspondência
AMBULIM
Rua Dr. Ovideo Pires de Campos, 785 — 2º andar
05403-010 — São Paulo — SP
e-mail: ambulim@hcnet.usp.br
Fone:             (11) 3069-6975      

Recebido: 02/09/2004 - Aceito: 15/09/2004

19 de jul. de 2011

Acompanhamento Psicológico Tardio em Pacientes Submetidos a Cirurgia Bariátrica







ABCD Arq Bras Cir Dig - 2010;23(2):108-113 


ACOMPANHAMENTO PSICOLÓGICO TARDIO EM PACIENTES SUBMETIDOS À CIRURGIA BARIÁTRICA
Late psychological follow-up on patients submitted to bariatric surgery
Simone Dallegrave MARCHESINI


INTRODUÇÃO  
A comunicação entre profissionais de saúde e pacientes sempre teve seus obstáculos, mas existem características específicas do grupo bariátrico. A expectativa em relação aos resultados sobre a auto-estima e motivação ainda prevalece na maioria dos pacientes, enquanto o foco central da equipe multidisciplinar permanece na resolução das doenças associadas à doença obesidade. Entre os operados se destacam aqueles submetidos aos procedimentos cirúrgicos há mais tempo. A conduta humana frente à realização de um ideal ergue diante da equipe multidisciplinar barreiras camufladas pela impulsividade e pela compulsão iniciais, mostradas nas primeiras entrevistas. Em nome da realização da operação presenciam-se múltiplas promessas pré-operatórias que apontam para o desejo prestes a ser realizado. No entanto, fica evidente no decorrer dos anos, que a motivação só permanece na proporção em que o objetivo não é alcançado. Uma vez eliminada a obesidade não há por que se empenhar contra ela. Os candidatos cirúrgicos, quando passam à condição de operados bariátricos, esquecem dos propósitos do tratamento.O ser humano não se constitui só; existe sempre em relação aos seus pares e ao meio-ambiente. Toda mudança corresponde a uma reação social e a uma resposta emitida em forma de comportamento. Desta feita, a pessoa que perde peso, aumenta seu senso de valor próprio, se traja com maior propriedade, sente-se mais adequada, é percebida como objeto de desejo. Tende a pensar o mundo, a sentir a vida e a emitir comportamentos diferenciados. As variações do comportamento, para mais ou para menos, apontam para possíveis distúrbios que devem ser analisadas com detalhes. A restrição alimentar determinada pelo volume gástrico ou a purgação via vômito e/ou diarréia buscam um sentido existencial para se sustentarem de modo producente. Sem significado na vida de cada operado existirão casos frustrados, pela perspectiva psíquica. O incentivo externo tem ação de mola propulsora, mas a persistência na aderência depende da recontratação periódica consigo próprio. A figura do terapeuta, seja externa ou já internalizada, é veículo para que mudanças processadas sejam mantidas ao longo do tempo. O objetivo desta pesquisa foi avaliar as condições pós-operatórias mediatas e tardias de pacientes bariátricos em contexto global e compreender melhor sua psicodinâmica.

 MÉTODO  
Com referência nas mudanças psicológicas observadas ao longo do trajeto dos pacientes bariátricos, foram elaboradas perguntas para compor um questionário, na tentativa de avaliar a compreensão dos pacientes acerca dos procedimentos aos quais foram submetidos; demarcar mudanças emocionais processadas ao longo da perda de peso; ressaltar transformações na qualidade de vida; destacar alterações na relação com a alimentação ou deslocamento para outra gratificação e, ainda, verificar a adesão ao tratamento de modo integral.
A amostra se delimitou a 46 pacientes de ambos os sexos operados em épocas diferentes. A população foi de pacientes de clínica privada em Curitiba. Foram enviados questionários via internet com 26 questões, sendo 16 delas do tipo “sim ou não” e 10 questões de múltipla escolha que não se eliminavam entre si, podendo, portanto ser marcadas mais de uma alternativa. As perguntas tiveram como conteúdo geral, “mudanças comportamentais e estados afetivos”. Os participantes foram informados que estavam participando de uma pesquisa com finalidade de publicação e, que a veracidade das informações era de extrema importância para a orientação de futuros pacientes. Todos tiveram consentimento informado aprovado.

RESULTADOS
Dos 90 questionários enviados através de e-mails, muitos retornaram devido a caixas postais cheias e mudanças de endereços eletrônicos. Foram obtidas 46 respostas, muitas com comentários e depoimentos pessoais anexados e solicitação de acesso ao resultado da pesquisa. Por constituir-se de 26 questões que repetem alguns tópicos ao longo de sua trajetória, foi possível detectar contradições em temas de maior subjetividade. De acordo com os resultados obtidos e considerando a subjetividade da avaliação, aproximadamente 43,5% dos pacientes não compreenderam que o procedimento conhecido popularmente como redução do estômago inclui a derivação intestinal. Ficou claro que a restrição gástrica ainda é o elemento marcante da operação de by-pass em Y de Roux. Dos entrevistados 89% sentiam-se preparados para a cirurgia bariátrica no dia da entrevista psicológica, porém 26% admitiram terem passado pelo “dia do arrependimento” diante de desconforto ou limitação provocada pelo procedimento e 67,4% admitiram que deveriam ter se preparado psicologicamente melhor, com mais do que uma avaliação psicológica. No que tange à motivação, a saúde debilitada preencheu a porcentagem de 30,4% como critério para decisão para a cirurgia bariátrica, mas ainda a mola propulsora dos pacientes é a discriminação social e estética com 54,3% e o desejo de iniciar uma nova etapa na vida 45,6%. O baixo índice de separações conjugais ou divórcios levaram à suposição de que, pessoas que rompem as relações afetivas, já tinham conflitos quanto aos relacionamentos e a operação serviu apenas como incentivo para ir ao ato. Dentro da classificação dos Transtornos do Humor a Depressão foi a mais pontuada, com 21,7% de casos em tratamento pré-operatório. Sem doença mental relatada no pré-cirúrgico foram marcados 45,7%, enquanto os demais relataram outras doenças pertinentes aos Transtornos de Ansiedade e Transtornos Alimentares. Na ocasião do preenchimento do questionário 51,2% estavam sem nenhum tratamento no plano psicológico/psiquiátrico e os que tinham tratamento davam preferência à psicoterapia isoladamente 19,6%, e medicação psiquiátrica isoladamente 13%. Do total de pacientes, 69,6% admitiram já saberem do diagnóstico emocional antes de passarem pelo procedimento cirúrgico, o que demonstra a resistência em admitir o vínculo entre o ato alimentar e os estados de humor. O deslocamento da compulsão para outro foco superou em metade da amostra (56,5%). Aproximadamente 11% relataram substituir a comida por bebida e a mesma porcentagem estar comprando excessivamente; 6,5% relataram estar comendo e vomitando e a mesma porcentagem relatou estar trocando com frequência de parceiros. Houve melhoria do padrão da vida sexual em 71,7% dos pacientes que responderam à pesquisa. Nenhum derivou sua impulsividade ou compulsão para a prática de exercícios físicos. A pior fase do tratamento cirúrgico da obesidade foi considerada por 39% dos pacientes a dieta líquida pós-operatória. Nessa fase de 15 dias a restrição alimentar é radical após hábito de consumo calórico elevado; a falta da mastigação e a redução de nutrientes transformam esse período em ritual de passagem. O retorno anestésico ficou em segundo lugar como pior período do tratamento operatório para a obesidade e marcou 32,6% dos pacientes. A adesão às orientações nutricionais foi exatamente de 50% e os demais pacientes se dividiram entre seguir apenas as orientações dietéticas ou apenas tomar a suplementação. Ainda existe na população de operados ou submetidos a tratamentos de emagrecimentos variados a idéia de que vitaminas são “engordativas”. Aproximadamente 61% negaram ter desenvolvido algum comportamento alimentar exótico ou distúrbio do comportamento alimentar após a cirurgia bariátrica. Mas dos comportamentos desenvolvidos, o mais apontado foi “comer e vomitar” com 8,7% de referência. Os pacientes admitiram que 32,6% dos parceiros não estavam preparados para ter magros ao seu lado e 17,4 se divorciaram após a operação. Alguns pacientes deixaram claro que a idéia da separação estava inclusa no desejo de mudar de vida, não sendo a operação a causa do divórcio, mas facilitadora do ato. Quanto à família, 19,6% perceberam que ela não manejou bem a transformação do operado bariátrico. Quanto à necessidade de ser aprovado e aceito, 43,5% admitiu não mais ter a necessidade de compensar com outros adjetivos o fato de ser obeso. Embora seja quesito necessário para a manutenção dos resultados cirúrgicos, 67,3% admitiram que não mudaram seus hábitos e estilo de vida, mas 93,5% perderam o peso que esperavam e 19,5% recuperaram peso ao longo do tempo para depois estabilizarem o IMC. Do total dos operados bariátricos que se dispôs a responder ao questionário, 8,7% disseram que não fariam a operação novamente por motivos particulares anexados ao questionário. Quanto ao preconceito em relação ao operado, 34,8% percebem este fator como verdadeiro e fundamentado na visão de que a opeação é uma “mutilação necessária devido à falta de “força de vontade” e derivada da fraqueza de caráter do obeso”. A operação permanece com o significado de impotência e corte como herança da psicanálise e da cultura. As pessoas que se dispuseram a responder às perguntas enviadas através da internet dividiram-se ao meio quanto aos benefícios dos grupos de apoio: parte defendeu a necessidade de dividir experiências comuns e parte defendeu o direito à privacidade, singularidade e sigilo.

DISCUSSÃO  
De acordo com pacientes que buscam tratamento cirúrgico para a obesidade a ansiedade e a depressão aparecem como as doenças de maior prevalência nas entrevistas pré-operatórias. Essas referências diagnósticas informais não preenchem todos os critérios exigidos pelos códigos e manuais descritivos das doenças mentais, porém, estudos com candidatos à cirurgia bariátrica, avaliados por meio de testes e inventários auxiliam na concretização e quantificação dos dados. São os mais utilizados: inventário de Beck; inventário de personalidade multifásico de Minnesota (MMPI); escala de obesidade relacionada à co-morbidades (AORC) e saúde relacionada à qualidade de vida (HRQOL). Pesquisa da Universidade da Califórnia seguiu o modelo formal para concluir que a depressão atinge maior número entre os candidatos à operação e que estes pacientes tendem a ter pior resultado em perda de peso ou recuperar peso ao longo do tempo, anulando parte ou todo sucesso cirúrgico. Também foi possível através do mesmo estudo perceber que a presença de depressão acabou por requerer tratamento deste transtorno do humor ou de quadros clínicos a ele associados3. Com os resultados obtidos foi possível inferir que o quadro de humor apresentado não era apenas resultado da condição clínica resultante da obesidade ou do efeito desta sobre a qualidade de vida, uma vez que os maiores índices de massa corporal não estavam correlacionados com a presença de depressão. A depressão deveria ser fisiologicamente ou metabolicamente associada às co-morbidades da obesidade sem uma relação direta causal. No trabalho clínico são delineados dois grupos, um cujo fator de stress funciona como gatilho da obesidade e outro em que a obesidade funciona como fator de início da depressão com ou sem ansiedade. A operação pode constituir para os depressivos e/ ou ansiosos mais um evento existencial ou ritual de passagem que provoca euforia ou deprime. A psique é dinâmica em seu funcionamento e mesmo que provável em sua trajetória, nunca é previsível. Em entrevistas avaliativas é possível constatar no discurso dos pacientes que pessoas que tendem à depressão e distimia têm maior probabilidade de interpretar a operação como incompetência frente às dietas e mutilação de um órgão saudável. Diante deste significado serão passíveis de punição através de maus resultados e complicações operatórias por estarem “mexendo na obra divina”. Segundo estudo de Ronna Saunders9, do Centro de Mudança do Comportamento de Virginia, em período aproximado de seis meses após a operação, o padrão alimentar preponderante é o “beliscador”. Este comportamento tende a substituir a compulsão a comer e predispõe à recuperação de peso. O aumento do peso acontece sem consciência plena do operado que volta aos padrões de pensamento e comportamento antigos. A comida readquire os significados dissociados, ou boa ou ruim, e suscita culpa e/ou ansiedade. O ato de beliscar porções pequenas, que não promovem sensação de empanzinamento como ocorre na compulsão, inibe a percepção do limite alimentar. Estudo de Elkins et al.4 sobre aderência às recomendações pós-operatórias 44% dos operados apresentaram o hábito de “beliscar”; 40% não se exercitaram; 21% não foram ao grupo de suporte e 7% não tomaram vitaminas nos seis primeiros meses. O mesmo grupo ao longo do primeiro ano permaneceu beliscando na porcentagem de 37%; praticou exercício em 41%; 25% passaram a frequentar o grupo de suporte e a ingestão de vitaminas subiu para 11%.
No estudo do Departamento da Universidade da Pensilvânia coordenado por Thomas A. Wadden10 o comportamento de vomitar e purgar em operados bariátricos apareceu em um a dois terços. O vômito, tanto como reflexo quanto auto-induzido, não é considerado comportamento purgativo no paciente bariátrico, como o é na bulimia nervosa. Ele ocorre em função da comida que fica alojada no trato digestivo alto. Comer demais, não mastigar suficientemente ou comer determinados tipos de alimento, estão na base desse tipo de ”devolução” alimentar. “Comer e cuspir” seria um comportamento prévio para evitar entalar-se com o alimento, ou mesmo não ter de vomitá-lo, como ocorre com a carne vermelha. No grupo brasileiro estudado pela autora foi possível constatar que a velocidade alimentar predispõe ao ato de vomitar, sendo a personalidade de base e o comportamento do operado, fundamentais para a determinação dos episódios de “devolução da comida”. É possível inferir que alguns pacientes beneficiam-se desse efeito cirúrgico transformando-o em purgação.
Em se considerando o comer como adição e levando-se em conta que a nova proposta medicamentosa se compõe de naltrexona e bupropiona - a primeira bloqueadora de efeitos opióides utilizada no tratamento do alcoolismo e a segunda para depressão com especial efeito sobre tabagismo com estrutura molecular semelhante à anfetamina e dietilpropiiona8 -, há tendência de se considerar que o adicto à comida sofre de deficiência de dopamina. Alguns autores consideram, no entanto, que não se pode estabelecer cientificamente que uma pessoa possa ser “viciada em comida”, mas os pacientes descrevem sua fissura por comida do mesmo modo que outros indivíduos relatam a necessidade biológica da droga. Talvez seja esse o caminho da compreensão da vulnerabilidade às drogas. Hoje é de conhecimento da ciência que quanto mais jovem é um indivíduo, mais intenso se torna o mecanismo de suporte ao stress através da comida. A utilização da bupropiona associada ao topiramato em protocolo de balão intragástrico tem auxiliado pacientes nos períodos finais da estadia do recurso, bem como na manutenção da perda de peso. O uso da comida alivia o desconforto provocado pela disforia, mas como as demais drogas, ao longo do consumo provocam disfunções cognitivas. Os transtornos alimentares, que têm claro vínculo com depressão, ansiedade e estados mistos do humor, também levam às mesmas condições. Assim como em qualquer doença crônica em que a aderência ao tratamento e o seguimento são difíceis e constituem foco do tratamento, em qualquer comportamento aditivo a prevenção de recaídas é o cerne do programa terapêutico. Para que as recaídas não venham a ocorrer Alexander em seu “Guia Prático para a Vida Após a Cirurgia Bariátrica” é assertiva: “... Você nunca mais comerá como os outros novamente. Você é especial e precisa de considerações especiais. Faça as pazes com isso e você se sentirá menos ansioso. Tente olhar para suas diferenças individuais de modo positivo. Mantenha os olhos na balança e tenha um diálogo positivo consigo mesmo...”A cirurgia bariátrica mudou seu panorama inicial. Sua clientela vem sendo de IMC menor, maisesclarecida, mais temerosa em relação às consequências da obesidade e menos receosa em relação à operação. O discurso do cliente bariátrico é a saúde, mas é na aceitação social e na dinâmica psicológica que está o centro dessa busca da troca de corpo. A cirurgia bariátrica é um braço da busca pela juventude.
A sexualidade recebe pontuação positiva na maioria das investigações após a cirurgia bariátrica, mas casos em que há sobra excessiva de pele e falta de condições financeiras para operações consideradas estéticas, levam ao retraimento da pessoa e até ao sentimento de mais uma falência. Há consenso quanto ao aspecto maior agilidade, maior facilidade para execução do ato sexual e maior capacidade de fornecer e receber prazer, mas esses critérios dizem respeito ao plano físico ligado ao sexo. A reavaliação do parceiro sexual, o bem-estar durante o ato, a auto-estima e espontaneidade durante o intercurso sexual são pouco explorados pela literatura e parecem ser influenciados pela imagem corporal e pelo relacionamento entre os pares. A queda de desejo sexual em algumas mulheres pode estar relacionada ao emagrecimento rápido que provoca declínio abrupto dos níveis de estrogênio que é necessário para a produção de testosterona. A ligação entre testosterona e desejo sexual feminino é inquestionável e sua alteração fica garantida mediante a queda dos níveis de estrogênio promovida pela rápida perda de peso6. Mas o desejo sexual ainda é algo muito complexo e não pode ser reduzido ao tamanho do corpo e alguns poucos hormônios, haja vista que magras também tem déficit de desejo, problemas na manutenção da libido e dificuldades com o orgasmo. Um terço dos homens parece corrigir disfunções metabólicas relacionadas à obesidade após a operação, sendo a perda de peso a causa da correção. A imagem corporal parece não interferir do mesmo modo sobre a espontaneidade durante o intercurso sexual para os homens como o faz para as mulheres. No que tange aos relacionamentos afetivos, ainda a média de casais que melhoram sua relação é maior que as separações conjugais. São estudos empíricos que mostram também a capacidade que a mudança em um dos pares tem de propiciar a quebra da relação, mesmo que esta mudança seja considerada boa.

CONCLUSÕES
Pode-se inferir que as motivações que levam os indivíduos a procurar a cirurgia bariátrica, são em sua maioria, calcadas nos retornos sociais, nos padrões estéticos e no desejo psicológico de mudança de vida. Uma vez concretizada a mudança de vida, a motivação se acaba, mas não garante a satisfação existencial, busca pertinente aos seres humanos. Pacientes bariátricos podem apresentar maiores distorções perceptivas corporais que fazem com que não notem sua recuperação de peso, ou se defendam dessa percepção, de modo a só buscar auxílio quando o ganho ponderal é excessivo e perceptivo para o social. Com recuperação de peso tendem a buscar outros recursos cirúrgicos ou clínicos a aceitar que seu consumo alimentar possa estar calcado em funcionamentos cerebrais e emocionais, como adição à comida.Também é possível inferir que o preparo para o atendimento de cônjuges e familiares reclama um espaço na formação de profissionais da área do tratamento cirúrgico da obesidade, para que a prevenção às recaídas possa ser foco terapêutico. O tempo de preparo pré-operatório se estende para além de uma única consulta psicológica e nutricional, mas aumenta sua eficácia.

 REFERÊNCIAS
1. Alexander C L, Transfer of Addiction (Transfer of Vice), Alcohol and Smoking. In: The Emotional First + Aid Kit. A Practical Guide to Life After Bariatric Surgery. Second Ed. Matrix Medical Communications, 2009.p.136
2. Alexander C L, Weight Maintenance.In: The Emotional First + Aid Kit. A Practical Guide to Life After Bariatric Surgery. Second Ed. Matrix Medical Communications, 2009.p.151
3. Ali MR, J. Rasmussen J J, Monash JB, Fuller WD .Depression is associated with increased severity of co-morbidities in bariatric surgical candidates. S O R D. 2009; 5:559-564
4. Elkins G , Whitfield P, Marcus J, Symmonds R, Rodrigues J, Cook T. Noncompliance with behavioral recommendations following bariatric surgery. Obes Surg. 2005; 15:546-551
5. Gold MS, Oppenheim HC, Frost-Pineda K. Obesity and Substance Use Disorders. In: McElroy, SL, Allison DB, Bray GA. Obesity and Mental Disorders. Taylor & Francis Group, New York/London. 2006.p.103-122.
6. Meana M, Ricciardi L. Changing The Dynamics in Your Inner Circle. Your Change Becomes Everybody Else’s In: Meana M, Ricciardi L. Obesity Surgery. Stories of Altered Lives. University of Nevada Press. 2008.p.88-130
7. Meana M, Ricciardi L. Deconstructing the Self. Who Was I and What Am I Becoming?. In: Meana M, Ricciardi L. Obesity Surgery. Stories of Altered Lives. University of Nevada Press. 2008. p. 131- 158
8. Sadock B, Sadock V, Sussman N. Bupropiona In: Manual de Farmacologia Psiquiátrica de Kaplan & Sadock . Sadock B, Sadock V, Sussman N. Artmed. Porto Alegre. 2007.10: 131-140
9. Saunders R. “Grazing” A High-Risk Behavior. Allied Health. Obes Surg.2003.14:98-102
10. Wadden TA, Sarwer DB , Fabricattore NA, Jones L, Stack R,Williams NS. Psychosocial Behavioral Status and of Patients Undergoing Bariatric Surgery: What to Expect Before and After Surgery. The Med Clin of N.A. 2007.91: 451-4

15 de jun. de 2011


MENSAGEM DE UMA PESSOA DETERMINADA A MUDAR REALMENTE A SUA VIDA


 Mensagem de Tim Mendes .... fez redução de estomago mais ou menos há 4 anos e este depoimento é muito importante....

"Oi Meire, td bem com vc??... olha eu não sei se vc ficou sabendo mas eu fiz abdominosplastia, depois de 4 anos da bariatrica eu perdi 85kg, e agora eu fiz a abdominosplastia e foi retirado mas 8kg, de pele, n...o total eu perdi 93kg até o momento, isso devido a bariatrica, reducação alimentar e atividade fisica 5x por semana. Eu fui no inicio do ano em piracicaba, onde o grupo que fez cirurgia comigo foi convocado, e para minha surpresa, somente eu e mais um rapaz havia tido exito com a cirurgia, o restante havia emagrecido, porém todos estavam voltando a engordar, para vc ter idéia, tinha uma muto depressiva, pq ja havia engordado 20kg, devido ao sucesso da cirurgia eu fui convidado a dar alguns depoimentos para grupos bariátricos, e estou me colocando a sua disposição para ajudar vc no seu grupo no que estiver ao meu alcance, vc acompanhou minha luta de perto e sabe como foi dificil, mas estou chegando lá, só faltam 10kg, para eu atingir o meu peso, gostaria muito de estar dividindo isso com essas pessoas, pq eram esses depoimentos que me deram forças qdo eu mais precisei. qualquer coisa estou a sua disposição...bjs.
E-mail: tim_mendes@hotmail.com
Facebook: Tim Mendes ou http://www.facebook.com/tim.mendes

10 de abr. de 2011



PERDA DE PESO... E DO "EIXO"



- Gordo sofre, é tudo contra nós, já entramos no jogo perdendo, percebem?
Bruna colocou sua opinião no intervalo da reunião mensal do seu médico (da
qual inclusive não ia há seis meses). Quem a viu falar, viu o retrato da mulher
que com a gastroplastia realizou o sonho de ser magra, de caber no manequim que a sociedade estipula.
Bruna hoje veste 40, tem seu trabalho, uma vida social ativa, voltou a fumar, gosta de tomar seus drinks na noite, conhece pessoas, voltou a usar saínhas curtas, e a não levar "desaforo" para casa. Ela faz o que quer, sem a capa de gordura castradora que a obesidade impunha.
Está alucinada com a "nova vida".
Bruna olha pro espelho com orgulho de si mesma. O que não avisaram a Bruna, é que o espelho só mostra o exterior. Será que Bruna tem o mesmo orgulho da "nova mulher" que a magreza fez nascer? Alguns amigos não a reconhecem mais, dizem que ela surtou. Outros acham o máximo a altivez que ela tem ao entrar num ambiente.
Bruna se surpreende com as cantadas que recebe, mas chora no banheiro quando o celular dela não toca no dia seguinte da noitada.
Bruna trocou o excesso da comida pela escassez de auto-estima. Paradoxo? Não!
O tormento só mudou de nome, mas o endereço continua o mesmo. E o mundo que Bruna escolheu não foi o da saúde, mas foi o da vaidade.
Ao viver num novo corpo, a Bruna "antiga" não se adaptou com a mudança e forçou o surgimento de uma "nova" Bruna, tão artificial quanto o mundo que ela escolheu para si. Ao se libertar do corpo obeso e da mente reprimida, Bruna se aprisionou num modelo de "mulher bem resolvida" que não é real, e nem maduro.
Bruna ainda chorava no banheiro, ainda invejava as amigas que "tinham tudo", ainda buscava caminhos que o corpo esbelto não fez acontecer. Bruna se deslumbrou com o corpo e não cuidou da essência. 
Não cuidava gorda, não cuida magra e a conseqüência é a infelicidade que sente sempre que está sem o bar, sem o almoço de trabalho, sem o cara da boate, sem as amigas da academia, enfim; sozinha.
Se abrir demais para a vida nova que surge ao lado do corpo novo, às vezes é perder a identidade e às vezes é nunca sequer encontrá-la.
É ficar presa num plasma de vaidade e na falsa sensação de que a vida é uma festa. É não saber envelhecer, e aceitar que independente do corpo, o tempo passa para todos, igualmente.
Bruna queria ser alguém que pertence a um momento e uma época passada.
Sua psicóloga disse:
"Que viver é uma coisa, reviver é outra."
"Que recuperar tempo perdido é inviável e doentio."
"Que ser ex-obesa não é ser ex-você mesma."
Um ano depois seu médico ligou para fazer um pedido. Que Bruna palestrasse sobre a mudança que o ex-obeso vive ao se enxergar belo, magro, e aceito na sociedade. Ela aceitou. Preparou sua pauta e foi. Falou pelos 30 minutos que tinha direito. Encantou pessoas com as palavras e o tom de humor que tinha em cada colocação. Emocionou outras tantas ao tocar em pontos que obesos ainda não tem consciência e que os ex-obesos não admitem que fazem.
Acabou sua palestra com a seguinte colocação:
- Todas as escolhas que fazemos na vida, são de nossa inteira responsabilidade, e isto inclui a cirurgia, só que teimamos em esquecer que fomos nós que escolhemos quando damos um passo errado, fugindo então das responsabilidades sobre os erros cometidos. Queremos viver o que o corpo e a alma não necessitam mais ao reviver no lugar de viver. Aproveitem o "presente" recebido ao decidirem pela cirurgia, mas retribuam este presente tratando da saúde que é só o que deve importar.
Foi aplaudida de pé ao término.
Se retirou do auditório com uma leveza que não era física, leveza que não havia sentido ainda nestes 12 meses de gastroplastia.
- Bom ouvir isso, siga em frente, sem desviar-se das metas e destas reais razões que te direcionaram a cirurgia.
- Eu escrevo textos (pomas, crônicas) sobre vários assuntos, e tenho escrito sobre gastroplastia também. Você me permite que eu escreva sobre sua vivência?
- Claro que sim. Marcamos um dia para falar sobre isso. Anote meu telefone. 
Saí dali com as idéias fervilhando e hoje aqui, este texto nasceu. Bruna é um nome fictício de um personagem fictício, mas que caracteriza uma realidade.
É o retrato de grande parte dos ex-obesos que quando se visualizam magros, são tomados pela vaidade extrema, pela vontade de ser que a obesidade nunca permitiu que ele fosse, anulando a essência e o amadurecimento que a vida ensinou. "



*desconheço a autoria* 

8 de abr. de 2011


Corpo e mente magros após a redução de estômago


POR FABIANA GONÇALVES

Problemas psicológicos são o lado B das cirurgias de redução de estômago, que podem afetar até 20% dos operados. Essas questões, associadas à imagem corporal, podem ser revertidas com terapia e acompanhamento nutricional.


Quem olha as fotos, de "antes" e "depois", de obesos acha impossível uma pessoa se sentir infeliz após se livrar de dezenas de quilos. As reportagens sobre a operação sempre destacam os casos de sucesso, de reviravolta na vida pessoal, do resgate da auto-estima, da melhora considerável da saúde. Esses são, de fato, os resultados obtidos pela maioria - afinal, depois de muito esforço e privações, a obesidade foi vencida.
No entanto, um levantamento feito pela psicóloga Maria Isabel Rodrigues de Matos, do Ambulatório de Obesidade Mórbida da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), SP, mostra que em cerca de 20% dos pacientes que se submeteram à cirurgia bariátrica emergiram problemas psicológicos. O pior desses dados, segundo a especialista, é que os casos tendem a se agravar à medida que o paciente não leva adiante o tratamento com uma equipe multidisciplinar, no pós-cirúrgico.

Os transtornos podem ser provocados pelo medo de comer e engordar ou a não adaptação à nova imagem

"A obesidade é uma doença crônica e deve ser tratada a vida inteira. Não é porque o paciente fez a redução de estômago que o problema acabou. Todo o processo de adaptação ao emagrecimento rápido e ao novo corpo deve ser acompanhado de perto por vários motivos, entre eles para a adaptação à nova imagem corporal", orienta a psicóloga.
"Essa preocupação é grande porque não são poucas as pessoas ansiosas, deprimidas e compulsivas que, se não acompanhadas com atenção, tendem a desenvolver outros transtornos. Os problemas mais comuns são bulimia ou anorexia, compulsão por compras, drogas ou sexo, alcoolismo, dependência de drogas e, no limite, até tentativas de suicídio", justifica a psicóloga.

Evite anorexia e bulimia 

Para Maria Isabel, o medo de voltar a engordar é tão grande que certas pacientes podem desenvolver esses transtornos, justamente depois da fase mais difícil de adaptação à convalescença, aquela em que a perda de peso ocorre mais rapidamente: os três primeiros meses.

Ou seja, mesmo após esse período, continuam a reduzir drasticamente o consumo e ficam anoréxicas. "Outras, que extrapolam nas quantidades, sentem- se culpadas pela comilança e acabam provocando vômito ou diarréia, como forma de expulsar o excesso ingerido. Pronto: até chegar nesse estágio, já desenvolveram a bulimia", explica.
"Sem contar que existem pessoas que não conseguem viver com tamanha privação alimentar. Não acham mais graça na vida, mesmo tendo a consciência de que essa era a única alternativa para ter saúde, e, então, caem em depressão", complementa Maria Isabel.

Sacrifícios insuportáveis 

E não é difícil encontrar pacientes que trocam a comida por outro tipo de compulsão. "Eles substituem o objeto de desejo. Na verdade, o problema tinha começado lá atrás. Antes, eles trocavam a falta de afeto e a ansiedade pela comida. Tinham uma fixação pelo ato de comer, sua rotina girava em torno disso. Quando são operados, ficam privados do seu grande prazer", explica.

"Precisam ir em busca de outra fonte de prazer, que de um modo geral foca nas compras, nos jogos, no sexo ou no álcool", diz a psicóloga. Depois da operação, mudam também as relações sociais, até porque muitas estavam estabelecidas em função da obesidade.
"É bom lembrar que o cirurgião opera o corpo, mas não a cabeça, e alguns pacientes não conseguem suportar tantas mudanças", complementa Daniel Lerario, endocrinologista do Hospital Albert Einstein, de São Paulo.

Privação programada 


Ele explica que, para quem engolia 3 mil calorias/dia, passar a fazer refeições de no máximo 150 g, no início, não é fácil.

Mesmo depois de seis meses, quando o cardápio gira em torno de 1.000 calorias, ainda é um terço do que era consumido antes da operação. "O que não se pode é achar que a cirurgia é mágica. O paciente emagrecerá porque optou por uma privação programada. Nem por isso ficará desnutrido. Isso só ocorre quando a pessoa come apenas bobagens", diz.
Entre os problemas mais comuns, o médico destaca a anemia, principalmente em mulheres, pois o ferro consumido no alimento acaba não sendo absorvido, por causa do fluxo menstrual. "Já a falta de cálcio é comum a homens e mulheres. Porém, em todos esses casos, a alimentação pode ser suplementada com um polivitamínico", explica o endocriologista Daniel Lerario.
Para a psicóloga Maria Isabel, é possível reverter os casos de quem apresenta sintomas de transtornos compulsivos, com acompanhamento psicológico. "Existe tratamento para todos os casos, desde que a pessoa não tenha vergonha de admitir o mal e de procurar ajuda", completa.

Avaliando a personalidade


A psicóloga Maria Isabel Rodrigues de Matos revela o resultado de uma pesquisa baseada em sua tesede mestrado, com pacientes antes da cirurgia bariátrica e que foi divulgada pela Unifesp:

20% da população em geral tem sintomas de depressão; entre os obesos, esse número sobe para 80%
20% da população é composta por ansiosos. Entre os obesos, essa porcentagem sobe para 70%
A preocupação com a imagem corporal faz parte do universo de 35% da população. Entre os obesos, chega a 78%
O Transtorno de Compulsão Alimentar Periódico (TCAP) - quando a pessoa come muito em curto espaço de tempo, ou seja, não tem controle sobre o que come - é uma preocupação para 3% 5% da população. Nos obesos, essa porcentagem atinge 40%
Para a psicóloga, a melhora da auto-estima, por conquistar um novo corpo, deveria ser maior do que a frustração de não poder devorar tudo o que aparece. Mas muitas vezes é preciso eliminar o peso também da cabeça para alcançar esse objetivo.

 "A melhora da auto-estima com o corpo enxuto deve ser maior do que a frustração de não poder devorar tudo o que vê pela frente"